Destacando seu papel como “figura transcendental” nas artes, cultura e política do México, autoridades, familiares e admiradores prestaram homenagem e despediram-se neste sábado da falecida atriz Silvia Pinal, última lenda da época de ouro do cinema e musa nacional do diretor Luis Buñuel.

Num grande evento no monumental Palácio de Belas Artes da Cidade do México, o governo mexicano destacou as múltiplas facetas de uma mulher “única e irrepetível” que desafiou os cânones do seu tempo com o seu trabalho no grande ecrã, na televisão e no teatro. onde atuou, produziu e até realizou ativismo.

“Ao se mostrarem rebeldes, irreverentes, sensuais e desafiadoras, as mulheres que Silvia Pinal revelou nas telas foram um testemunho vivo do divisor de águas entre dois tempos”, destacou a Secretária de Cultura do México, Claudia Curiel de Icaza, em seu discurso sobre o atriz, morreu na quinta-feira aos 93 anos.

Seu papel principal em “Viridiana”, filme emblemático do hispano-mexicano Buñuel que ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 1961, escandalizou o Vaticano e mostrou sua coragem e talento para lidar com personagens polêmicos.

Parentes da AFP se reúnem ao lado do caixão da atriz mexicana Silvia Pinal no Palacio de Bellas Artes, na Cidade do México, em 30 de novembro de 2024

“Ela trabalhava como queria e com quem sonhava”, acrescentou Curiel, para quem a artista ensinou o público a olhar para as mulheres com “os seus problemas, as suas ambições e questões”.

Pinal foi “uma mulher que olhou para o futuro e o conquistou”, acrescentou a secretária da Cultura.

O caixão com os restos mortais de Pinal permaneceu pouco mais de duas horas na sala principal do luxuoso palácio, adornado com grandes fotos da diva em vários momentos de sua vida.

O conjunto coral do Instituto Nacional de Belas Artes, vários cantores e um grupo de mariachis cantaram inúmeras canções tradicionais mexicanas que Pinal considerou entre as suas favoritas.

Pilar de uma dinastia de mulheres dedicadas à música, atuação e modelagem, as filhas, netas e bisnetas de Pinal foram as protagonistas da homenagem onde proferiram discursos, entre lágrimas de tristeza e emoção.

«Este matriarcado sempre teve magia, sempre arte, sempre coisas que todos levaremos (…). Essa é a melhor herança que posso ter, essa casta, essa raiz que foi até o fim”, disse a roqueira Alejandra Guzmán, uma de suas filhas mais bem-sucedidas.

AFP
Parentes choram sobre o caixão da atriz mexicana Silvia Pinal durante seu funeral no Palácio de Bellas Artes da Cidade do México, em 30 de novembro de 2024.

– Carinho popular –

Após as intervenções, centenas de admiradores que formaram filas durante horas em torno do Bellas Artes entraram para observar o caixão e prestar suas homenagens.

O caixão de Pinal foi transportado para o palácio a partir de uma funerária no sul da Cidade do México num percurso de cerca de 15 quilómetros, guardado por cerca de 60 motos da polícia da capital, além dos veículos que transportavam os seus familiares.

Pessoas posicionadas nas passarelas ou nas calçadas das avenidas por onde ele passava observavam sua passagem, algumas tirando fotos ou gritando “Silvia!” como um gesto de despedida, segundo imagens da televisão local.

A atriz morreu em um hospital da capital mexicana onde estava internada desde a semana passada para tratamento de uma infecção urinária.

A presidente Claudia Sheinbaum lamentou sua morte na noite desta quinta com mensagem na rede social

Pinal participou de um total de 84 filmes, 42 peças de teatro e 33 produções televisivas, segundo a rede TelevisaUnivisión, à qual esteve ligada durante décadas.

jla/braço

© Agência France-Presse