RIO DE JANEIRO — Gangues criminosas operam em mais de um terço dos municípios da floresta amazônica brasileira, provocando um boom de violência, de acordo com um relatório publicado quarta-feira por uma importante organização sem fins lucrativos.

Em 2024, as gangues estavam presentes em 260 dos 772 municípios da região, contra 178 no ano passado, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O entrincheiramento de organizações “mafiosas” – particularmente o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital (PCC) – “agravam sobremaneira a situação na Amazônia Legal, que hoje é vista como um território muito estratégico para o tráfico transnacional, com a circulação de diferentes bens ilícitos”, disse o relatório.

A Amazônia Legal é uma área localizada em nove estados do Brasil que abriga a maior bacia hidrográfica do mundo.

Dos 260 municípios onde estão presentes grupos do crime organizado, o Comando Vermelho controla metade, contra um quarto no ano passado, disse Renato Sérgio de Lima, presidente da organização sem fins lucrativos, à Associated Press.

O Comando Vermelho se expandiu para cidades da região Norte do Brasil depois que o PCC assumiu o controle da rota do tráfico de drogas via Ponta Porã, município na fronteira com o Paraguai, na região Centro-Oeste. Desde então, o Comando Vermelho engoliu algumas facções locais que já não funcionam de forma autónoma, disse Lima.

O facto de os gangues estarem a assegurar monopólios sobre actividades criminosas pode ajudar a explicar a queda de 6,2% nas mortes violentas em toda a região entre 2021 e 2023, escreveram os autores na terceira edição do relatório intitulado “Cartografias da Violência na Amazónia”.

No entanto, “a internalização da violência nas áreas rurais e florestais tornou os municípios pequenos e tranquilos alguns dos mais violentos do país”, afirmaram.

Especialista em assassinatos de povos indígenas Bruna Pereira e britânico jornalista Dom Phillips em 2022 colocou em evidência o aumento da violência na região. Eles viajavam ao longo do rio Itaquaí, próximo à entrada da Terra Indígena Vale do Javari, que faz fronteira com o Peru e a Colômbia, quando foram atacados. Seus corpos foram desmembrados, queimados e enterrados.

A polícia brasileira acusou formalmente um comerciante de peixes colombiano como a pessoa que planejou seus assassinatos. As mortes foram motivadas pelos esforços de Pereira para monitorar e fazer cumprir as leis ambientais na região, disse a polícia. Philips era trabalhando em um livro sobre a preservação da Amazônia.

O detetive da Polícia Federal Alexandre Saraiva, que chefiou polícias em três estados do Amazonas entre 2011 e 2021, conhecia tanto Phillips quanto Pereira. “Não há sombra de dúvida” de que o crime organizado na região aumentou nos últimos anos, disse ele.

A expansão das organizações criminosas na Amazônia aconteceu ao mesmo tempo que o crescimento da mineração ilegal, disse Saraiva, que aumentou acentuadamente no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, que incentivou a prática.

Depois de derrotar Bolsonaro nas eleições de 2022 e regressando ao cargo para um terceiro mandato não consecutivo em janeiro de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem procurado combater a criminalidade e a desflorestação na região. Enquanto o desmatamento diminuiuo relatório mostra que a sua administração teve pouco sucesso em controlar a expansão das gangues de traficantes.

“Hoje, o poder dá certo na Amazônia”, disse Saraiva, autor do livro “Selva: madeireiros, mineradores e corrupção em uma Amazônia sem lei”, disse Saraiva, por telefone, do Rio. Ele disse que alguns legisladores brasileiros e políticos locais também foram responsáveis ​​pela situação e os acusou de receberem fundos de grupos criminosos em troca de proteção.

O domínio das organizações criminosas sobre a região representa um problema de segurança pública, mas é também um obstáculo ao desenvolvimento da práticas sustentáveis especialistas dizem que são essenciais para sua preservação.

Combater o tráfico de drogas, os crimes ambientais, a apropriação de terras e outras ações ilegais exige políticas públicas coordenadas e multifacetadas, bem como projetos de desenvolvimento local, afirma o relatório.

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